quarta-feira, 18 de julho de 2012

A "funcionalização" do professor.


Existe uma questão que tem de ser resolvida mesmo, é a "funcionalização" do professor universitário. É absurdo que um sujeito faça um concurso uma vez na vida e se abotele numa cadeira universitária. A própria estrutura da universidade brasileira faz esse absurdo.
Os professores de engenharia não trabalham em obras, os professores de medicina não cuidam de doentes. Conheço uma doutora em enfermagem que é considerada a melhor professora da sua universidade e já ganhou vários prêmios acadêmicos. Ela é muito inteligente e competente, dedicada, "caxias" mesmo. Um dia eu disse a ela que nunca a tinha visto de jaleco. Ela respondeu que não tinha um, que havia mais de 10 anos que não entrava num hospital. Então ela é uma excelente teórica, mas e a prática? E o contato com a realidade? Conheço professores de licenciatura que nunca ensinaram numa escola. Terminaram seus cursos, seus mestrados e doutorados e ficam pontificando como se ensinar para crianças sem nunca ter ensinado a uma.
Todos concordam que professores universitários deveriam ser obrigados a exercer suas profissões pelo menos um tempo de anos em anos (exceto para casos como filosofia, cálculo, etc em que a teoria é a prática, é claro). O problema é como fazer isso? Simplesmente jogando os professores na rua e dizendo: "te vira aí"? Propor isso é atraente para os dirigentes, mas não é essa a solução.
O correto é que as universidades tenham convênios com empresas, de preferência públicas, hospitais e escolas (necessariamente públicos) para que seus professores passem um estágio em contato com a realidade da sua profissão. Isso ajudaria a levar a teoria até a prática e a prática até a teoria.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mais patentes

Nossos valentes burrocratas do MEC e do Planejamento, em sua missão de salvar o país de pessoas perdulárias que desejam gastar o suado dinheirinho do Leão com pesquisas inúteis, introduziu o sistema fordista na nossas universidades. Agora, qualquer menino que esteja pensando em fazer pós-graduação está louco para publicar em anais e revistas científicas. Não importa o quê, importa publicar às toneladas para merecer as maravilhosas bolsas do MEC. Os burrocratas gozaram de prazer ao saber que nosso nível de publicação se elevou muito acima do nível jamaicano e logo atingiremos o mesmo número de publicações per capita de gigantes da ciência como Portugal ou Irlanda. Pois bem, no meio do seu orgasmo taylorista, nossos amados e valorosos técnicos do Planalto e nossos ideólogos do Bom Dia Brasil e Veja descobriram que o número de patentes brasileiras não tem aumentado no ritmo desejado. Isso está nas tabelas e é preciso cumprir metas! Tantas publicações devem equivaler a tantas patentes. Isso é do manual, tem de ser cumprido, custe o que custar (ou melhor, desde que não custe muito caro, pois temos que sustentar os pobres bancos internacionais).

Para isso, vai começar a funcionar a linha de montagem das patentes. Não é difícil. Pode-se patentear, por exemplo, refrigerante sabor jaca. Essa patente pode não servir pra nada, afinal, jaca não parece ser um sabor muito recomendável para refrigerante, mas, não importa, será uma patente. Além de refrigerantes de vários sabores (jaca, rapadura, jiló), nossos potentes químicos patentearão versões melhoradas de cosméticos com aromas de frutas amazônicas, nossos engenheiros genéticos patentearão óculos feitos com escamas de pirarucu, nossos biólogos associados a nossos designers patentearão modelos de casinhas fabricadas com conchas do nosso litoral. Sim, meus amigos, tudo isso é passível de ser patenteado, ou pelo menos, de ter a patente requerida. Se eu invento um novo modo de usar casca de jatobá para fazer porta-lápis, posso pedir a patente. Sem dúvida um refrigerante sabor jaca é complexo o suficiente para obtê-la. Como há umas duzentas espécies de frutas pouco conhecidas no país, sem dúvida há espaço para patentear muitos sabores de refresco em pó, de aromas de sabonete e de modelos de óculos cuja armação imita um piqui e quejandos. Sim, dentro de cinco ou seis anos, a continuar essa pressão por patentes, veremos tudo isso se cumprir.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Para que ensinar aos negros?

A principal preocupação da CAPES é não gastar dinheiro inutilmente com pesquisas sem valor. Para isso ela cria uma série de mecanismos para descobrir quais pesquisadores devem receber dinheiro e quais devem morrer de fome. Isso lembra uma lei da Bahia no século XIX que proibia as escolas de aceitarem filhos de escravos. A lógica era a mesma: o dinheiro é pouco não vamos gastá-lo inutilmente. Para os iluminados do século XIX os negros eram inferiores, logo não conseguiriam aprender e, se conseguissem, não trariam nenhum progresso para a nação. Logo, educar os negros era jogar dinheiro fora.
Hoje temos a mesma lógica: há pouco dinheiro para educação, logo, ele deve ser gasto com coisas úteis, como engenharias, não com besteiras como Filosofia ou História. Há pouco dinheiro para pesquisa, logo, ele deve ser bem gasto, com gente que gere patentes (de preferência patentes que possam ser vendidas a preço de banana aos grandes laboratórios).
Ontem eram os negros, hoje os linguistas, os filósofos, os historiadores. Sempre essa gentinha inútil querendo sugar o rico dinheiro da nação, que deve ser, é claro, destinado ao sustento do frágil sistema financeiro.

domingo, 7 de agosto de 2011

Como gerar patentes no Brasil

Muita gente acha que dinheiro público é para sustentar bancos. Esse negócio de financiar pesquisa no país é jogar dinheiro fora, quanto mais que a maioria das nossas teses são na área de humanidades e as que são na área de exatas ou biologia são em ciências puras. Além do mais, para essa gente  é muito melhor gastar dinheiro importando tudo do exterior, como dizia o grande presidente Fernando Color.


Vou contar uma historinha. O velho Henry Ford tinha um problema, ele precisava de um material barato para volantes de automóveis. Ford contratou um químico que descobriu que poderia sintetizar um polímero a partir do óleo de soja que serviria para fazer direções. Só que pelo caminho, ele descobriu outras coisas, o que gerou doze patentes. A Ford então resolveu abrir uma indústria química e explorar outros produtos.

Por que isso não aconteceu, não acontece e não acontecerá no Brasil? Simples. Se a Ford do Brasil precisar de um polímero, esperará que a matriz americana descubra esse polímero. A Ford do Brasil (e qualquer outra multinacional) não faz mais que reproduzir modelos que vêm projetados do exterior.

Quando o governo financiou o programa do álcool, foram desenvolvidas várias patentes e as indústrias automotivas brasileiras produziram os carros flex com tecnologia brasileira.

Cientistas trabalham sobre problemas, mas têm de ser perguntados.

Quando, nos EUA, algumas igrejas protestantes quiseram traduzir a Bíblia para línguas indígenas, a linguística teve um avanço extraordinário. O mesmo aconteceu qdo os EUA entraram na Segunda Guerra e precisavam de um método para ensinar alemão a seus soldados para que eles, pelo menos, pudessem gritar aos inimigos que se rendessem ou que pudessem interrogar prisioneiros. Foi outro avanço imenso da linguística. O método de ensinar línguas evoluiu exponencialmente.

Quando os EUA quiseram entender o modo de pensar japonês durante a guerra, para compreender onde deveriam atacar e onde não, eles pagaram uma equipe de antropólogos, o que fez a Antropologia avançar "cinquenta anos em cinco".

Se há questões a serem respondidas, a ciência avança, se ninguém faz perguntas, a ciência patina. Mas o Brasil jamais será os EUA. Nossas fábricas não fabricam nada original, não temos política extena independente, nada em que aplicar a ciência, exceto o carro flex...



Onde a ciência brasileira avança e gera patentes? No setor agropecuário. É no setor agropecuário que o governo realmente investe dinheiro, são os latifundiários que realmente querem ser competitivos com novas variedades de soja, café e gado. Nesse setor não faltam pesquisas práticas.

Se o Brasil tivesse uma indústria que não fosse apenas montadora de produtos semi-prontos, teríamos patentes na área de Química, de Física e tudo o mais.

Não é função do cientista ser empreendedor. Se fosse, não precisariamos de empresários. No Brasil se obriga o pesquisador a dar aulas, a administrar sua universidade e agora quer se obrigá-lo a fundar indústrias para desenvolver patentes. Patentes são assuntos para administradores, não para cientistas.

Não podemos ficar oferecendo produtos aos empresários para que eles vejam se vão ou não investir. Não funciona assim. Até nos quadrinhos, é o Tio Patinhas que vai atrás do Professor Pardal e não o contrário.




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Do Plágio "involuntário"

Já falamos sobre o plágio em outra postagem, porém o assunto é amplo e complexo. Ultimamente vem sendo denunciado o plágio entre professores respeitáveis de instituições mais respeitáveis ainda. Há muitas causas para isso, além da pura e simples desonestidade.
É preciso ter publicações em cascata para conseguir bolsas e outras benesses da CAPES e do CNPQ, porque os burocratas que nos governam acham que universidade é fábrica e laboratório é oficina. Como uma fábrica de baldes tem sua produtividade medida pelo número de unidades produzidas, os gênios formados em Administração de EMPRESAS (como um moleque que nunca administrou um carrinho de cachorro-quente é administrador de empresas no plural?) querem medir a produtividade da ciência pelo número de patentes e artigos publicados.
Uma "solução" encontrada, principalmente pelo pessoal de química e biologia, é fazer enormes trabalhos coletivos onde são citados como autores desde a moça que fez o cafezinho até o professor aposentado que só apareceu pra dizer um oi. Esse negócio de até o menino que regou as plantas do laboratório entrar nos créditos pode ser bom para a indústria farmaceutica, que paga barato pela patente registrada, já que ninguém é dono dela toda e se um dos caras não vende sua parte, os outros pressionam pra ele vender. Mas, como vemos, isso é péssimo para o controle científico.


Um milhão de pessoas pegam carona no artigo sem nem ter lido.  Na ânsia de agradar os administradores de empresas que estão em cargos nomeados, vai um carinha da iniciação científica e escreve o artigo, o monitor assina fingindo que não viu o plágio, o orientador apressado passa por cima, o chefe do depto ganha carona, o pró-reitor pede pra entrar e o reitor tem seu nome incluido sem nem saber que publicou.

Até eu vou ser beneficiado com essa modinha. Um cara que foi chefe de equipe num trabalho que eu participei há muitos anos está fazendo doutorado na Espanha e vai escrever um artigo. Ele mandou um e-mail dizendo que vai me dar crédito no artigo. Muitas revistas nem publicam trabalhos se não tiver mais de um autor.



Enfim, benvindo ao maravilhoso mundo SEBRAE, a produção é tudo, a qualidade é nada, a não ser que dê lucro.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Importação de cérebros

Alguns gênios (inclusive o imbatível Mercadante) acham que o Brasil poderia aproveitar suas atuais e magníficas condições econômicas e contratar cientistas no exterior para ensinar aos burros xucros das nossas universidades o que é ciência!

Aham, há milhares, talvez milhões de doutores europeus loucos para ganhar o que nós ganhamos aqui, aproveitar os maravilhosos laboratórios que nós temos, desfrutar da ótima infra-estrutura de nossas universidades. Basta colocar um anúncio de que precisamos de laureados do Nobel para que eles acorram para nossas bem localizadas instalações, como o Instituto Manguinhos, com sua bela vista para a favela. Sem dúvida, fazer experiências com copos de geléia e bacias de plástico é tudo o que um cientista europeu deseja! Qual arqueólogo não se deliciaria com a perspectiva de colar cerâmica com cola escolar e esmalte de unhas?

Ou esse povo é de uma hipocrisia paquidérmica ou vivem no Mundo da Moranguinho.

É como o caso dos engenheiros, os caras da construção civil começaram a dizer que iriam importar engenheiros. Quantos engenheiros eles conseguiram trazer para ganhar 2 mil reais? Teve um cara que se lamentou que ofereceu 17 mil para um estrangeiro trabalhar numa obra na Amazônia e ele não quis simplesmente porque não tinha médico no acampamento! Oras, que gente cheia de luxos! Atendimento médico no meio da Amazônia! Ninguém mais morrer de malária pela honra e glória do capital. Esse povo é muito mal acostumado...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Doutorado só serve para ensinar

Nós do Ministério da Cultura pleiteamos há uns dois anos a gratificação de "retribuição de titulação", isto é, que paguem gratificações por nossos títulos de especialização, mestrado e doutorado. Porém o Setor de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento lançou um documento em resposta dizendo que a titulação está ligada à ativadade acadêmica e de pesquisa. 

Nossos técnicos do planejamento querem dizer com isso que só as universidades, IES e instituições que têm programas de pós-graduação como o Instituto Oswaldo Cruz e Museu Nacional, têm razão de abrigar doutores, pois eles servem pra ensinar...

Realmente, para que um arqueólogo do IPHAN ter doutorado? Nós só fazemos buracos na terra! Qualquer guri faz isso sem precisar de doutorado. Pra quê um historiador do IPHAN ter doutorado? Basta ir na Wikipédia e pegar a história de um prédio velho desses que a gente tomba.

Doutores são pra fabricar mais diplomas! O resto é gasto de dinheiro.